Por Lourdes Ballesteros, Cofundadora da Rede pelo Patrimônio Mundial
Muitos anos atrás, os homens fizeram a primeira lista das maravilhas do mundo. Havia sete e elas se situavam na atual Grécia, Turquia, Egito e Iraque. Dessas sete maravilhas, apenas uma permanece: a grande pirâmide de Gizé, no Egito, construída por volta de 2500 a. C. Os outras seis desapareceram quase completamente, mas temos registros e escritos sobre sua existência. Graças a esses registros, podemos imaginar:
Fídias trabalhando o marfim e o ouro com os quais moldaria a estátua de Zeus, o deus dos deuses e protetor da cidade de Olímpia;
Recriamos os Jardins Suspensos da Babilônia, às margens do Eufrates, misteriosos e únicos e que têm nutrido a imaginação de inúmeros arquitetos e artistas;
Oramos em Éfeso no Templo de Ártemis, de arquitetura helênica clássica;
Lamentamos a morte do Mausolo naquele que foi um dos mais belos e mais bem ornamentados monumentos funerários do mundo antigo, e que daria o seu nome a construções deste tipo, o Mausoléu de Halicarnasso;
Ficamos impressionados, assim como os marinheiros que entraram no porto de Rodes e foram recebidos pela colossal estátua de Hélios, o deus grego do sol;
Imaginamos ver a luz no mar proveniente de um dos monumentos que guardou o recorde de ser, por muitos séculos, o mais alto do mundo: o Farol de Alexandria.
As Sete Maravilhas do Mundo Antigo, pintadas por Maerten van Heemskrerck. Transferido de en.wikipedia para o Commons.
A lista antiga inclui apenas as maravilhas construídas pela mão do homem, o que hoje chamamos de bens culturais. Mas existem muitas maravilhas da natureza de grande antiguidade: cachoeiras, montanhas, monólitos, ilhas ... O Monte Uluru, o grande monólito vermelho na Austrália central, tem mais de 600 milhões de anos; o Deserto do Namibe, que já existia quando os dinossauros foram extintos, há mais de 65 milhões de anos; e as Ilhas Galápagos, musas inspiradoras de "A Origem das Espécies" de Darwin, começaram a se formar há cerca de 14 milhões de anos.
Hoje, a UNESCO compilou uma lista de mais de 1.100 maravilhas do mundo que inclui tesouros culturais e naturais da humanidade. Esses bens, com um valor universal excepcional, estão distribuídos pelos cinco continentes e, muitos deles, estão em perigo de desaparecer.
É hora de perguntar se as gerações futuras poderão ver com seus próprios olhos o santuário histórico de Machu Picchu, a velha cidade de Damasco, a Reserva de Fauna Okapi, as florestas tropicais de Sumatra e o centro histórico de Viena ou só poderão imaginá-las com a partir dos documentos escritos como aconteceu com os jardins da Babilônia, com a estátua de Zeus ou com o templo de Ártemis. É hora de nos perguntarmos se temos o direito de acabar com as riquezas do mundo.